Muito além de puro entretenimento, o cinema tem o poder de representar uma sociedade como nenhuma outra arte. Com suas histórias, estas obras têm o poder de acolher, transformar e emocionar através de situações, personagens e discussões que refletem a vivência cotidiana nos mais variados aspectos sociais e culturais.
Mesmo que o mercado internacional seja o extremo dominante neste processo, estes filmes ainda cumprem suas propostas e abrem a mente do público e cineastas do mundo inteiro para novos conceitos e discussões. Seja no espaço de voz a uma minoria ou na simples união de heróis em um evento blockbuster, o cinema impacta, dá voz e molda diversos segmentos a partir de sua “proximidade” com o público.
O Brasil, por sua vez, nunca se viu tão impactado pelo cinema como nos últimos anos. Com seus cineastas e público dispostos a saírem da zona de conforto, a sétima arte abriu suas projeções para moldar comportamentos que vão muito além das poucas horas de exibição: política, representatividade e outras causas extremamente importantes agora recebem os holofotes de forma a impactar, refletir e influenciar qualquer um que esteja diante este material.
Se a representação crua da realidade serviu de motivo para desconforto no passado, hoje faz os olhos brilharem. Conceitos e pensamentos se moldaram com o tempo e impressões caricatas cederam espaço ao mais complexo estudo social e cultural de nosso povo.
Talvez em seu exemplo mais gritante, as mulheres agora possuem a chance de se sentirem representadas por personagens de alto escalão, fortes e protagonistas de suas próprias histórias. Independente de faixa etária ou classe social, o público feminino conseguiu conquistar seu espaço de direito na sociedade e refletiu este ganho em representações aclamadas e motivadoras na tela grande, rumo a fazer o sexismo se tornar uma terrível memória distante.
A população negra, que segue cada vez mais em crescente no país, agora se vê ouvida e refletida através de obras que retratam suas realidades sem firulas. Sem apagar cicatrizes do passado, personagens negros recebem os holofotes para relatar a discriminação e a força de uma luta por igualdade que parece interminável.
Em sua complexidade, o cinema encontra formas de afetar comportamentos e balançar as estruturas de uma sociedade. Com a maior parte do reflexo vindo de fontes exteriores, a cultura e o modo de viver também acabam se modificando graças ao impacto de percepções e realidades distintas. Se isso é positivo? Num ponto de vista geral, sim.
O fato é que a riqueza de uma cultura parte de princípios próprios e regionais, e seu cerne não pode ser perdido. O cinema produzido aqui, embora ainda use de táticas e estruturas similares àquelas vistas em obras de fora, tem conseguido equilibrar seu desenvolvimento de modo a adaptar todo este processo diante o estilo de vida do brasileiro.
Apostando na verdade nua e crua de sua cultura, o cinema tem o poder de trazer à tona um retrato fiel da sociedade a fim de amplificar importantes discussões com a profundidade e dinamismo merecidos.
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